Eis aqui um tópico que tantos autores parecem esforçar-se por esquecer, escrevendo, não de acordo com aquilo a que, provisoriamente – à falta de melhor definição –, poderíamos classificar como verdade interior, mas em sintonia com o que entendem ser mais próprio desse fantasma a que chamam espírito da época, acabando assim por falsificar e arruinar irremediavelmente a sua produção artística (e não cabe aqui discutir se quem assim procede não o faz precisamente para esconder a inexistência de qualquer verdade interiorque pudesse sustentar uma obra de arte digna desse nome).
(...)
A consequência que daí retirou o poeta romano é bem clara: a literatura é um trabalho árduo, e quem disso não se convencer perde o seu tempo a compor versos, que deles não ficará memória. Para além de recomendar que se censure todo o poema que não tiver sido longamente retalhado e aperfeiçoado, sem que o cansaço possa, em algum instante, justificar o desânimo do autor, Horáciotraçou uma apologia da excelência na criação literária que deveria fazer corar de vergonha todos aqueles (e não só) que desatam a juntar frases porque lhes ocorreu, de passagem, que tinham algo para dizer, confundindo obtusamente a arte com esse lamentável «algo para dizer»:
Tu, (…) conserva bem na memória o que te digo: nas coisas positivas se concebe tolerável mediania e qualquer jurisconsulto ou advogado mediano, se não chegou à habilidade do eloquente Messala ou à ciência de Aulo Cascélio, nem por isso deixa de ter o seu valor. Mas os poetas medianos, esses não os admitem nem os deuses nem os homens, nem as estantes dos livreiros. (p. 151)
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