"Quem fabrica um peixe fabrica duas ondas
uma que rebenta floralmente branca à direita
outra à esquerda só com ar lá dentro
e o ouro íngreme puxando o começo da noite
e o fim do enorme dia onde todos morreremos
como filhos escorraçados
ou disso a que chamam demónio da analogia
quem fabrica um poema curto morrerá muito mais tarde
só depois de estar maduro
quem baixa a mão para quebrar um selo
há-de baixá-la para quebrar os outros e há-de fechar os olhos
e de tanto ter visto não poderá nunca mais abri-los
e como pão e bebo água de olhos fechados
como se fosse para sempre
e assim adeus a quem vê
que eu morro inteiro para dentro
e vejo tudo só de entendê-lo
- Oh coração scarpado,
que lhe toquem através do sangue turvo,
nem o amor nem o cego idioma das mães hão-de salvá-lo nunca:
súbito cai o terrífico estio sobre o mundo,
mas só a ele o queimará por entre as searas que amadurecem,
invisíveis, implacáveis,
alta noite
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