O tremor
.
A chuva
como língua de preênseis musgos
parece procurar-me, buscar o colo do útero,
baixar,
lamber o eixo vertical,
contar o número de vértebras que me separam
De teu corpo ausente.
.
Busco agora lentamente com minha língua
a demorada pegada de tua língua
fundida nas minhas salivas.
.
Bebo, bebo-te
nas mansões líquidas
do paladar
na humidade radiante do teu Inglês,
enquanto tua própria língua me percorre
E baixa
retráctril, preênsil, como a língua
escura da chuva.
.
A raiz do tremor enche a tua boca
treme, se derrama em ti
e canta germinal em tua garganta.
- José Ángel Valente: Cuerpo y deseo
(mudado para português por antónio carneiro)
foto por Datta
Sem comentários:
Enviar um comentário