quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

O tremor 
.
A chuva
como língua de preênseis musgos
parece procurar-me,  buscar o colo do útero,
baixar,
lamber o eixo vertical,
contar o número de vértebras que me separam
 De teu corpo ausente.
.
Busco agora lentamente com minha língua
a demorada pegada de tua língua
fundida nas minhas salivas.
.
Bebo, bebo-te
nas mansões líquidas
do paladar
na humidade radiante do teu Inglês,
enquanto tua própria língua me percorre
E baixa

retráctril, preênsil, como a língua
escura da chuva.
.
A raiz do tremor enche a tua boca
treme, se derrama em ti
e canta germinal em tua garganta.

- José Ángel Valente: Cuerpo y deseo

 (mudado para português por antónio carneiro)

foto por Datta

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