domingo, 29 de dezembro de 2013

Considerada na pessoa do autor, a literatura é uma profissão singular. O material reduz-se a uma caneta e algumas folhas de papel; a aprendizagem, o ofício é aquilo que se quiser: de curta ou infinita duração. A matéria-prima é também aquilo que quisermos, encontra-se em qualquer lado; na rua, no coração, no bem e no mal. E, quanto ao trabalho em si, ele é indefinível, porque cada um pode dizer que pertence a esta profissão e quer vir a ser um mestre. (...) Afastemos a imagem romântica do poeta de cabelos compridos, de longa fronte fatal, que se sente transformar em lira ou harpa no meio das tempestades ou pela noite, ao luar, na margem de um lago... Nada de bom se faz nestas circunstâncias extraordinárias. Os melhores versos amadurecem no dia seguinte da inspiração.

Paul Valéry, in Regards sur le Monde actuel (pgs. 244/5).

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