quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

SONETO

Quando voltei encontrei os meus passos
Ainda fresco sobre a húmida areia.
A fugitiva hora, reevoquei-a,
— Tão rediviva! nos meus olhos baços...

Olhos turvos de lágrymas contidas.
— Mesquinhos passos, porque doidejastes
Assim transviados, e depois tornastes
Ao ponto das primeiras despedidas?

Onde fostes sem tino, ao vento vário,
Em redor, como as aves num aviário,
Até que a asita fofa lhes faleça...

Toda essa extensa pista — para quê?
Se há-de vir apagar-vos a maré,
Com as do novo rasto que começa...

In Clepsydra: Poemas de Camilo Pessanha.
Lisboa: Assírio Alvim, 2003.
Posfácio e fixação do texto: António Barahona ズ

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