Do livro Polaroids de distintos naufrágios, ainda por publicar, um par de poemas de José Luiz Tavares, oferecidos ao BdB no dia em que o poeta faz 46 anos:
Olhas para lá das colinas,
e a idade é onda que vem,
profunda de extremo a extremo,
solene nome caindo assim opaca
em ti sozinho com a vida.
e a idade é onda que vem,
profunda de extremo a extremo,
solene nome caindo assim opaca
em ti sozinho com a vida.
Mas vem no riso nascido na boca
do mais só, do que ganhou gosto
à fome de mais vida, sem jeito para
a melancolia nem para a vergonha
de chorar a dor dos outros.
do mais só, do que ganhou gosto
à fome de mais vida, sem jeito para
a melancolia nem para a vergonha
de chorar a dor dos outros.
A bem dizer, não te comovem os ademanes
metafísicos, ó criança sentada nas trevas
que protegem a infância, quando a febre
descia devagar como um dom celeste
à correnteza oculta das vidas subitamente
iluminadas.
metafísicos, ó criança sentada nas trevas
que protegem a infância, quando a febre
descia devagar como um dom celeste
à correnteza oculta das vidas subitamente
iluminadas.
Mas vês a demora nas mãos dos construtores,
esses que selam nas pedras os pactos com
o tempo e um sinal de eternidade deixam
sobre as cabeças comovidas por essa paciência
que não cuida do azebre desenhando
as rosáceas da extinção,
esses que selam nas pedras os pactos com
o tempo e um sinal de eternidade deixam
sobre as cabeças comovidas por essa paciência
que não cuida do azebre desenhando
as rosáceas da extinção,
porquanto olhando para lá das colinas
o que se vê é da ordem do puro pensamento,
da iluminação mais secreta – fundas paisagens
com seus perfis trementes, posto que
o incomovível vento, que é caçador audaz,
uiva nos mastros erectos, entenebrece
nos esteios lavados pelas chuvas,
o que se vê é da ordem do puro pensamento,
da iluminação mais secreta – fundas paisagens
com seus perfis trementes, posto que
o incomovível vento, que é caçador audaz,
uiva nos mastros erectos, entenebrece
nos esteios lavados pelas chuvas,
mas tudo persiste
entre queda e queda, no redemoinho de pó
restituidor da perene pensada vida.
entre queda e queda, no redemoinho de pó
restituidor da perene pensada vida.
***
(com joão vário)
Não te deram coroa alguma
para te medires com os da tua casta,
mas a pedra que conhece de antemão
o lugar da conveniência e aterra
sem o pavor da grandeza na funda
predestinada, posto que voracíssimo
é o ofício das parcas e mais esteios
não dispões tu que esse sal que preserva
a intensidade com que se amanha
esse ofício ambivalente.
para te medires com os da tua casta,
mas a pedra que conhece de antemão
o lugar da conveniência e aterra
sem o pavor da grandeza na funda
predestinada, posto que voracíssimo
é o ofício das parcas e mais esteios
não dispões tu que esse sal que preserva
a intensidade com que se amanha
esse ofício ambivalente.
E sob tal tecto vigias a calamidade,
pois para a continuidade não basta
o estrondo da exaltação, ó homem
dilacerado pelas indagações fatídicas,
habituada que a vida é à estreiteza
abnegada, à sua altiva orfandade,
sem o unguento do alívio ou qualquer
outro rumor reparador.
pois para a continuidade não basta
o estrondo da exaltação, ó homem
dilacerado pelas indagações fatídicas,
habituada que a vida é à estreiteza
abnegada, à sua altiva orfandade,
sem o unguento do alívio ou qualquer
outro rumor reparador.
Estás só, medindo-te com a vara do teu
senso, e é deveras uma via estreitíssima
que não se abandona com a vinda
do escuro, pois muito esperaste pelas contas
do passado, pelos argutos conselhos
temperados de sagacidade; e ainda assim
senso, e é deveras uma via estreitíssima
que não se abandona com a vinda
do escuro, pois muito esperaste pelas contas
do passado, pelos argutos conselhos
temperados de sagacidade; e ainda assim
só estás e continuarás no chão da semeadura,
e nada deves às sibilas imemoriais,
nem a coroa do espanto ou o favo
da coragem, que tudo é pedra talhada
com a abnegação que não prescinde da incerteza,
e para atravessar tal desígnio nenhuma estendida
meada existe – tudo é construção no ovo
da contingência, e quem por ti, quem por ti,
ó homem em duas metades repartido?
e nada deves às sibilas imemoriais,
nem a coroa do espanto ou o favo
da coragem, que tudo é pedra talhada
com a abnegação que não prescinde da incerteza,
e para atravessar tal desígnio nenhuma estendida
meada existe – tudo é construção no ovo
da contingência, e quem por ti, quem por ti,
ó homem em duas metades repartido?
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