sexta-feira, 27 de setembro de 2013

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Não tenho lágrimas
estou mais baixo
junto à cal

Vejo o solo extinto
Não oiço ninguém
e não regresso

Adormecer talvez
junto a uma estaca
com uma pequena pedra
sobre as pálpebras


Também de rasgões é feito o poema

Também de rasgões é feito o poema
entre uma possível estrela e a carne dolorosa
E nele se desenha a sombra de um crânio
ou as mãos vazias que perderam o rastro
de um segredo evidente submerso no opaco


Todo o tempo perdido

Todo o tempo perdido
para não me perder
para não sufocar

Poderei ainda
reconhecer
atrás das pálpebras
a intacta ferida?


Por vezes de um poema concluído

Por vezes de um poema concluído
subsiste um aroma frágil instantâneo
que acende sobre nós uma ingénua estrela
que ilumina os nossos gestos
e aligeira os passos sobre as pedras claras


in "A Intacta Ferida"
António Ramos Rosa (Faro, 17-10-1924 / Lisboa, 23-09-2013)

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