" Jamás, señora, puedo mejorarme,
y cuanto es bueno por sanar mis males
revuelve el pensamiento y es matarme.
¡ Oh, mal que es bien ! De mal dais señales.
No quiero el mal ni de él puedo apartarme,
y huyo el bien que alcanzan desleales.
Mirad, si no lo veis, qué desasosiego
alcanza aquel que sigue amor tan ciego "
Juan Boscán ( 1490-1542 )
_________________________________________________________
O impossível carinho
Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor -
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!
Manuel Bandeira
(1886-1968)
_______________________________________________
" Avanza desde el oscuro rincón.
La trae aquella música de cuerpo de fantasma,
aquella música que flota.
Al llegar a la rueda del corazón
se levanta en las puntas de los pies,
que se clava como agujas, como agujas.
Necesitaba aquellas alas de fuego en los pies,
para poder seguir hasta la garganta
a cosechar el aire y segar la voz,
y volar hacia otro rincón oscuro,
huyendo entre el sueño y la muerte.
La nostalgia no tiene tiempo ni lugar "
Álvaro Cunqueiro ( 1911-1981 )
__________________________________-
PUDESSE O QUE PENSO.
Pudesse o que penso exprimir e dizer
Cada pensamento oculto e silente,
Levar meu sentir moldado na mente
A ser natural perante o viver;
Pudesse a alma verter, confessar
Os segredos íntimos em meu ser;
Grande eu seria, mas não pude aprender
Uma língua bem, que expresse o pesar.
Assim, dia e noite novo sussurar
E noite e dia sussurros que vão...
Oh! A palavra ou frase em que atirar
O que penso e sinto, acordando então
O mundo; mas, mudo, não sei cantar,
Mudo como as nuvens antes do trovão.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
Pudesse o que penso exprimir e dizer
Cada pensamento oculto e silente,
Levar meu sentir moldado na mente
A ser natural perante o viver;
Pudesse a alma verter, confessar
Os segredos íntimos em meu ser;
Grande eu seria, mas não pude aprender
Uma língua bem, que expresse o pesar.
Assim, dia e noite novo sussurar
E noite e dia sussurros que vão...
Oh! A palavra ou frase em que atirar
O que penso e sinto, acordando então
O mundo; mas, mudo, não sei cantar,
Mudo como as nuvens antes do trovão.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
______________________________________-
Em um tornozelo
Tive uma revelação não do alto
Mas de baixo, quando a vossa saia por um momento levantou
Traíu tal promessa que não tenho
Palavras para bem descrever a vista.
E mesmo se o meu verso tal coisa pudesse tentar,
Difícil seria, se a minha tarefa fosse comtemplada,
Para encontrar uma palavra que não fosse mudada
Pela mão fria da Moralidade.
Olhar é o bastante: o mero olhar jamais destruíu qualquer mente,
Mas oh, doce senhora, além do que foi visto
Que coisas podem ser advinhadas ou sugerir desrespeito!
Sagrada não é a beleza de uma rainha.
Pelo vosso tornozelo isso cheguei a suspeitar
Do mesmo jeito que vós podeis suspeitar do que eu quis dizer.
Alexander Search, um dos heterônimos de
Fernando Pessoa
(1888-1935)
Tive uma revelação não do alto
Mas de baixo, quando a vossa saia por um momento levantou
Traíu tal promessa que não tenho
Palavras para bem descrever a vista.
E mesmo se o meu verso tal coisa pudesse tentar,
Difícil seria, se a minha tarefa fosse comtemplada,
Para encontrar uma palavra que não fosse mudada
Pela mão fria da Moralidade.
Olhar é o bastante: o mero olhar jamais destruíu qualquer mente,
Mas oh, doce senhora, além do que foi visto
Que coisas podem ser advinhadas ou sugerir desrespeito!
Sagrada não é a beleza de uma rainha.
Pelo vosso tornozelo isso cheguei a suspeitar
Do mesmo jeito que vós podeis suspeitar do que eu quis dizer.
Alexander Search, um dos heterônimos de
Fernando Pessoa
(1888-1935)
______________________________________________-
LÁGRIMA
Dos olhos me cais,
redonda formosura.
Quase fruto ou lua,
cais desamparada.
Regressas à água
mais pura do dia,
obscuro alimento
de altas açucenas.
Breve arquitectura
da melancolia.
Lágrima, apenas.
Eugénio de Andrade
(1923-2005)
___________________________________________-
O QUE HOJE APRENDI PARA DIZER-ME.
talvez não caiba no jeito do verso
não cabe, por minha falta
mas eu aprendi.
Desde hoje serei mais eu
estarei mais onde estiver
José de Almada Negreiros
(1893-1970)
________________________________________-
LAMENTO
Pátria sem rumo, minha voz parada
Diante do futuro!
Em que rosa-dos-ventos há um caminho
Português?
Um brumoso caminho
De inédita aventura,
Que o poeta, adivinho,
Veja com nitidez
Da gávea da loucura?
Ah, Camões, que não sou, afortunado!
Também desiludido,
Mas ainda lembrado da epopeia….
Ah, meu povo traído,
Mansa colmeia
A que ninguém colhe o mel!.....
Ah, meu pobre corcel
Impaciente,
Alado
E condenado
A choutar nesta praia do Ocidente…
Miguel Torga
(1907-1995)
Pátria sem rumo, minha voz parada
Diante do futuro!
Em que rosa-dos-ventos há um caminho
Português?
Um brumoso caminho
De inédita aventura,
Que o poeta, adivinho,
Veja com nitidez
Da gávea da loucura?
Ah, Camões, que não sou, afortunado!
Também desiludido,
Mas ainda lembrado da epopeia….
Ah, meu povo traído,
Mansa colmeia
A que ninguém colhe o mel!.....
Ah, meu pobre corcel
Impaciente,
Alado
E condenado
A choutar nesta praia do Ocidente…
Miguel Torga
(1907-1995)
__________________________________________________
EXORCISMO
Canto
O meu desencanto.
Este cansaço
Lasso
De tudo quanto,
Esta melancolia
Penitente
De quem sente
Que luta e que porfia
Inutilmente.
Esta baça impressão
De que nada vale.
Esta tristeza triste
Que resiste
Às razões da razão inconformada.
Miguel Torga
(1907-1995)
Canto
O meu desencanto.
Este cansaço
Lasso
De tudo quanto,
Esta melancolia
Penitente
De quem sente
Que luta e que porfia
Inutilmente.
Esta baça impressão
De que nada vale.
Esta tristeza triste
Que resiste
Às razões da razão inconformada.
Miguel Torga
(1907-1995)
______________________________________________
FICAM AS SOMBRAS.
Não. Não podeis levar tudo.
Depois do corpo,
E da alma,
E do nome,
E da terra da própria sepultura,
Fica a memória de uma criatura
Que viveu,
E sofreu,
E cantou,
E nunca se dobrou
À dura tirania que o venceu.
Fica dentro de vós a consciênciaDepois do corpo,
E da alma,
E do nome,
E da terra da própria sepultura,
Fica a memória de uma criatura
Que viveu,
E sofreu,
E cantou,
E nunca se dobrou
À dura tirania que o venceu.
De que ali onde o mundo é mais vazio
Havia um homem.
E sabeis que se comem
Os frutos acres da recordação…
Fantasmas invisíveis que atormentam
O sono leve dos que se alimentam
Da liberdade de qualquer irmão.
Miguel Torga
(1907-1995)
____________________________________-
PREVIAMENTE
Na primeira existência aprendes logo o formato,
célula após célula desenrola-se em meadas organizadas, planta membros,
és reduzido lentamente a um conceito de seis letras.
Esqueces-te de como era ser perfeito. Permaneces assim brevemente,
reconheces as oportunidades no decorrer do tempo, roças-te à
coincidência, armas-te com a razão e o tempo,
até demarcas uma vida anterior.
No momento em que te divides
desapareces simultaneamente
em dois amantes.
Muitas vezes é esse o fim, vêem-se demasiado tarde,
é como se houvesse um estranho obstáculo ou
as suas míseras vidas se desenrolassem em cidades incompatíveis.
Por vezes, revelas-te contumaz, encontras com exactidão
a fenda, deixas-te repentina e imprevisivelmente
voltar a fundir-te num só.
§
RISCOS
O nosso quarto habitual. As paredes erguem-se tal qual
como combinado. A janela desdobra-se, completa
com os cortinados fechados. Poderia ser ao princípio da noite ou
ao fim do dia. Penumbra inalterável.
algumas chalaças sobre a luz do dia que menos e menos suporta.
O odor a madeira e a tangerinas muito maduras.
Olha, ali surgem os armários, a cama de casal delineia-se
com os seus lençóis e os cobertores,
a colcha com a mancha exactamente no mesmo sítio. Lá
em baixo recompomos as nossas caras, sentamo-nos à mesa
e a vista enche as ombreiras: quintas, três árvores a abanar.
Sabemos de antemão o que iremos agora comer:
a entrada, que é sempre um desapontamento, o bife e a tarte de maçã.
Estamos mais velhos, entretanto podemos pagar
uma coisa melhor. Aqui chove a maior parte do ano.
O perigo maior envolve-nos com
o mesmo lugar, o mesmo quarto. Arriscamo-nos a ter hábitos,
amamo-nos. Repetimo-nos.
§
De Celinspecties (Inspecções às Celas)
BEM-VINDO DE VOLTA
Sei como eles passam o portão à noitinha.
As mãos ainda côncavas de acariciarem
as cabeças dos filhos, as costas dobradas.
Trazem na roupa o exterior e cheiros a comida,
pêlos de cão, cerveja, o cheiro a mulher quente e
últimos cigarros juntos, lençóis enxovalhados.
Olho para os homens a lavarem-se
deixando para trás sabão, pó e saudades.
Sei que as mulheres ficam junto aos portões.
Os casacos abotoados até ao pescoço,
As mãos nos bolsos, cabeças curvadas.
Como os homens avançam em silêncio.
§
DENTRO DOS LIMITES
Habituas-te à tua forma. Às paredes construídas de paciência, à altura do tecto cheio de manchas estranhas, ao chão pegajoso; imperturbável, a tua respiração sonda o espaço e retorna, as tuas mãos acham no escuro o interruptor, os cigarros, como te movimentares, habituas-te a fumar no escuro, quem vês mais nitidamente são os teus filhos, pedalam em bicicletas de pneus furados, pegam em ferramentas sem terem ninguém que lhes ensine, atiram aos pássaros errados, raspam as faces com a tua navalha embotada. Habituas-te. Debaixo dos cobertores a tua mulher revolve-se nua, sente-la próxima, estendida, em dimensão real, tentas tocar-lhe, habituas-te a um corpo que ninguém mais toca e tu mais e mais perdido à volta dela, difícil de consolar. Habituas-te à vista como a uma história, a quem ta leu naquela altura, quase adormecido, já naquela altura, muitos anos atrás, praticamente não compreendeste o significado, tal como te esqueceste de muitas coisas e habituas-te à imagem que fabricas depois: salteadores aparecem e cantam, há um homem com uma gadanha, uma mulher numa torre, de braços abertos como se estivesse à espera de cair, no entanto a espera dela é voluntária, ri-se. Habituas-te. A que em breve, corajosamente alguém virá socorrê-la, derrotar os ladrões e dar cabo do homem com a gadanha. Habituas-te ao impulso de a meter para dentro. A ficar hesitante ao princípio, em seguida, aos teus hábitos, a uma relação com a luz sobre os lençóis, à porta de ferro, à torneira que pinga, aos buracos dos cigarros nas cortinas, aos teus posters nus que se oferecem, ao rosto omnipresente que se debruça quando escurece, ao bafo da justiça, às conversas dos outros e à música ao longe, ao facto de tudo provocar estalidos, ao desaparecer vagaroso de um passo no corredor, a ter medo habituas-te, à tua nudez completa, sémen na mão, caracol que és. A matutar habituas-te, à inutilidade da respiração contínua habituas-te, ao constante cismar habituas-te.
ESTER NAOMI PERQUIN nasceu em Utrecht em 1980. Reside em Roterdão, cidade da qual é a poetisa oficial (nomeada em 2011 por um período de 2 anos). Em 2006 concluiu o curso de escritora na Amsterdamse Schrijversvakschool, na variante Poesia. A fim de pagar os estudos, Ester Naomi Perquin trabalhou como guarda prisional durante 4 anos. Essa experiência profissional reflecte-se na temática de grande parte dos seus poemas. No último livro que publicou, Celinspecties (Inspecções às Celas) todo o livro se centra à volta da prisão em geral, e dos seus habitantes em particular. Assinalados pelo nome próprio e a inicial do apelido, eles desfilam numa galeria de tipos, motivações, vivências, atitudes e crimes. Esse desfile faz-se sem juízos ou preconceitos. Ester Naomi Perquin estreou-se em 2007 com o livro de poesias Servetten halfstok (Guardanapos a meia-haste) que recebeu o prémio de estreia da revista Het Liegend Konijn. No ano seguinte, o mesmo livro arrecadou o prémio Eline van Haaren destinado a poetisas até aos 35 anos. Servetten halfstok foi ainda nomeado para dois prémios prestigiosos: o prémio C. Buddingh (2007) e o prémio Jo Peters (2008). Namens de ander (Em nome do outro) foi o seu segundo livro a ser publicado, em 2009. Ganhou o prémio de poesia Jo Peters (2010) e o prémio J.C Bloem (2011) seguidos de mais prémios. O terceiro e último livro chama-se Celinspecties. Publicado em 2012, já recebeu um prémio em 2013.
____________________________________________
ESTRADAS ERMAS JUNTO AO MAR.
Pouco a pouco eles partiram
sonhavam outros mundos dentro
deste mundo. Levaram suas palavras
carregadas de bandeiras a esvoaçar
ao vento. Levaram o próprio vento
que por vezes trazia
as guitarras secretas da líricas ilusões.
E as tardes de Verão e o cheiro do jasmim
e as raparigas debruçadas das janelas
e as estrelas ardentes que deixavam
pelas estradas ermas junto ao mar.
Levaram o próprio mar que estava dentro
dos íntimos caminhos nunca desbravados.
Levaram os livros que narravam
as cidades futuras. Levaram
as próprias cidades e a abstracção
de suas casas e suas ruas
onde se juntavam todos e ninguém.
Levaram as manhãs anunciadas
e o amor de uma noite de um só
Verão. Levaram o próprio amor
levaram a noite e o Verão
as teorias e os teoremas
as gramáticas viradas do avesso
as praças os poemas
e sobretudo aquele verso
onde os povos passavam a cantar.
Pouco a pouco partiram. E só deixaram
estradas ermas junto ao mar.
Manuel Alegre
In "Nada Está Escrito"
Pouco a pouco eles partiram
sonhavam outros mundos dentro
deste mundo. Levaram suas palavras
carregadas de bandeiras a esvoaçar
ao vento. Levaram o próprio vento
que por vezes trazia
as guitarras secretas da líricas ilusões.
E as tardes de Verão e o cheiro do jasmim
e as raparigas debruçadas das janelas
e as estrelas ardentes que deixavam
pelas estradas ermas junto ao mar.
Levaram o próprio mar que estava dentro
dos íntimos caminhos nunca desbravados.
Levaram os livros que narravam
as cidades futuras. Levaram
as próprias cidades e a abstracção
de suas casas e suas ruas
onde se juntavam todos e ninguém.
Levaram as manhãs anunciadas
e o amor de uma noite de um só
Verão. Levaram o próprio amor
levaram a noite e o Verão
as teorias e os teoremas
as gramáticas viradas do avesso
as praças os poemas
e sobretudo aquele verso
onde os povos passavam a cantar.
Pouco a pouco partiram. E só deixaram
estradas ermas junto ao mar.
Manuel Alegre
In "Nada Está Escrito"
_________________________________________________
DILEMA
É uma voz que me chama e me defende:
- Vem...; mas não venhas...; cada sonho é
Tanto mais vivo quanto mais se estende
A dura rota que nos leva ao pé.
E eu ouço a voz que prega no deserto,
E não paro nem volto; apenas sinto
Que, se chego, desperto,
E, se não chego, minto.”
Miguel Torga
(1907-1995)
É uma voz que me chama e me defende:
- Vem...; mas não venhas...; cada sonho é
Tanto mais vivo quanto mais se estende
A dura rota que nos leva ao pé.
E eu ouço a voz que prega no deserto,
E não paro nem volto; apenas sinto
Que, se chego, desperto,
E, se não chego, minto.”
Miguel Torga
(1907-1995)
_____________________________________________
É ASSIM A MÚSICA.
A música é assim: pergunta,
insiste na demorada interrogação
- sobre o amor?, o mundo?, a vida?
Não sabemos, e nunca
nunca o saberemos.
Como se nada dissesse vai
afinal dizendo tudo.
Assim: fluindo, ardendo até ser
fulguração – por fim
o branco silêncio do deserto.
Antes porém, como sílaba trémula,
volta a romper, ferir,
acariciar a mais longínqua das estrelas.
Eugénio de Andrade
(1923-2005)
__________________________________
CONTRATO.
Se estiveres contente, dou-te uma maçã;
se tiveres medo, torço a tua mão;
e se me deixares, quero apertar-te,
sem te fazer mal, contra o coração.
Se eu estiver contente, dás-me uma maçã?
Se eu estiver com medo, torce a minha mão.
E se tu quiseres, podes apertar-me,
sem me fazer mal, contra o coração.
Isto é um contrato, só com dois se faz:
venho oferecer-to com desesperada
calma, sendo incerto que estes nossos jogos
possam dos amantes expulsar demónios.
se tiveres medo, torço a tua mão;
e se me deixares, quero apertar-te,
sem te fazer mal, contra o coração.
Se eu estiver contente, dás-me uma maçã?
Se eu estiver com medo, torce a minha mão.
E se tu quiseres, podes apertar-me,
sem me fazer mal, contra o coração.
Isto é um contrato, só com dois se faz:
venho oferecer-to com desesperada
calma, sendo incerto que estes nossos jogos
possam dos amantes expulsar demónios.
Gastão Cruz
______________________
QUANDO OS TEUS OLHOS ABSORVEM
Quando os teus olhos absorvem
todas as cores da minha
mais íntima tristeza,
e compreendes e calas e prometes
um lugar qualquer na tua alma,
e a tua voz demora a regressar
ao neutro compromisso das palavras,
sei que as tuas mãos ajudariam
a limpar estas lágrimas antigas
por dentro do meu rosto.
Vítor Matos e Sá
(1926-1975)
Quando os teus olhos absorvem
todas as cores da minha
mais íntima tristeza,
e compreendes e calas e prometes
um lugar qualquer na tua alma,
e a tua voz demora a regressar
ao neutro compromisso das palavras,
sei que as tuas mãos ajudariam
a limpar estas lágrimas antigas
por dentro do meu rosto.
Vítor Matos e Sá
(1926-1975)
_______________________________________-
DO SENTIMENTO TRÁGICO DA VIDA.
Não há revolta no homem
que se revolta calçado.
O que nele se revolta
é apenas um bocado
que dentro fica agarrado
à tábua da teoria.
Aquilo que nele mente
e parte em filosofia
é porventura a semente
do fruto que nele nasce
e a sede não lhe alivia.
Revolta é ter-se nascido
sem descobrir o sentido
do que nos há-de matar.
Rebeldia é o que põe
na nossa mão um punhal
para vibrar naquela morte
que nos mata devagar.
E só depois de informado
só depois de esclarecido
rebelde nu e deitado
ironia de saber
o que só então se sabe
e não se pode contar.
Natália Correia
(1923 - 1993)
Não há revolta no homem
que se revolta calçado.
O que nele se revolta
é apenas um bocado
que dentro fica agarrado
à tábua da teoria.
Aquilo que nele mente
e parte em filosofia
é porventura a semente
do fruto que nele nasce
e a sede não lhe alivia.
Revolta é ter-se nascido
sem descobrir o sentido
do que nos há-de matar.
Rebeldia é o que põe
na nossa mão um punhal
para vibrar naquela morte
que nos mata devagar.
E só depois de informado
só depois de esclarecido
rebelde nu e deitado
ironia de saber
o que só então se sabe
e não se pode contar.
Natália Correia
(1923 - 1993)
____________________________________-
É DIFÍCIL NA VIDA ACHAR ALGUÉM.
É difícil na vida achar alguém
Que seja na verdade um grande amigo,
E se assim penso – e com tristeza o digo,
É porque o sei, talvez, como ninguém.
Se a amizade é um bem – e se esse bem
Traz o conforto de um divino abrigo,
Por mim, direi, que nunca mais consigo
Iludir-me nas graças que ele tem.
Afectos, sacrifícios, lealdade!,
Tudo se apaga ou fica na memória
Se a ilusão dá lugar à realidade.
E ai daqueles que pensam na excepção:
Acabam por ficar dentro da história
De que a vida é um sonho e uma traição.
António Botto
(1897 - 1959)
É difícil na vida achar alguém
Que seja na verdade um grande amigo,
E se assim penso – e com tristeza o digo,
É porque o sei, talvez, como ninguém.
Se a amizade é um bem – e se esse bem
Traz o conforto de um divino abrigo,
Por mim, direi, que nunca mais consigo
Iludir-me nas graças que ele tem.
Afectos, sacrifícios, lealdade!,
Tudo se apaga ou fica na memória
Se a ilusão dá lugar à realidade.
E ai daqueles que pensam na excepção:
Acabam por ficar dentro da história
De que a vida é um sonho e uma traição.
António Botto
(1897 - 1959)
_____________________________
" Si la mano en la mano y la mirada
sumida en la mirada, no por eso
deja de hacer a la mirada acceso
la boca temblorosa y encarnada,
color de corazón, donde encerrada
está un ansia febril y el amor preso,
hasta juntar las bocas en el beso,
naciente sol de alba apasionada.
El mundo por defuera se oscurece,
al par que por adentro se ilumina;
fúndese alma con alma en una esencia,
que es el alma del mundo; y reaparece,
ley infalible y claridad divina,
cada vez que el amor hace presencia "
Ramón Pérez de Ayala ( 1880-1962 )
sumida en la mirada, no por eso
deja de hacer a la mirada acceso
la boca temblorosa y encarnada,
color de corazón, donde encerrada
está un ansia febril y el amor preso,
hasta juntar las bocas en el beso,
naciente sol de alba apasionada.
El mundo por defuera se oscurece,
al par que por adentro se ilumina;
fúndese alma con alma en una esencia,
que es el alma del mundo; y reaparece,
ley infalible y claridad divina,
cada vez que el amor hace presencia "
Ramón Pérez de Ayala ( 1880-1962 )
_____________________________________
" Ay de mí y ay de ti, qué nos conmueve
sino la fuerza del amor, responde
tú, taciturna, desvaída venus,
mujer serena que te restituyes
a tu centro primero, en liviandad
del minuto pasado, inútil prueba
dudando, repensando lo que fuimos
y balando en el alma como dos corderitos
lo que no somos, lo que no seremos "
Mariano Rodán.
sino la fuerza del amor, responde
tú, taciturna, desvaída venus,
mujer serena que te restituyes
a tu centro primero, en liviandad
del minuto pasado, inútil prueba
dudando, repensando lo que fuimos
y balando en el alma como dos corderitos
lo que no somos, lo que no seremos "
Mariano Rodán.
______________________________________
" Lo que estaba en el árbol, está;
porque todo lo que ha sido, es.
Él solo precisa la mano que descansa
y que le dice : " ven ".
Porque la mano es él : árbol y pensamiento
y tiempo que te ama y busca
para sobrevivir en ti
porque si piensas el ser, eres;
y, si piensas el vacío del ser, eres el vacío.
Causalidad.
Acerca la mano para darme certeza,
casi como si ser y querer
tuvieran que unirse en los labios
donde somos, nosotros, árbol.
Donde yo soy tu corteza
y tú el vacío que me arde "
Francesc Parcerisas. ( Traducción de Jordi Virallonga )
porque todo lo que ha sido, es.
Él solo precisa la mano que descansa
y que le dice : " ven ".
Porque la mano es él : árbol y pensamiento
y tiempo que te ama y busca
para sobrevivir en ti
porque si piensas el ser, eres;
y, si piensas el vacío del ser, eres el vacío.
Causalidad.
Acerca la mano para darme certeza,
casi como si ser y querer
tuvieran que unirse en los labios
donde somos, nosotros, árbol.
Donde yo soy tu corteza
y tú el vacío que me arde "
Francesc Parcerisas. ( Traducción de Jordi Virallonga )
____________________
" Las grandes noches de estío
que nada mueve sino el claro
filtro de los besos; tu rostro,
un sueño entre mis manos.
Como tus ojos lejana,
tú has venido desde el mar,
desde el viento que parece alma.
Y besas perdidamente
hasta que la boca seca
está abierta como la noche,
llevada por su aliento.
Tú vives entonces, tú vives,
el sueño de que existes es cierto.
Desde que te busco.
Te estrecho para decirte que los sueños
son bellos como tu rostro,
lejanos como tus ojos.
Y el beso que busco es el alma "
Alfonso Gatto ( 1909-1976 ) ( Traducción de Vintila Horia )
que nada mueve sino el claro
filtro de los besos; tu rostro,
un sueño entre mis manos.
Como tus ojos lejana,
tú has venido desde el mar,
desde el viento que parece alma.
Y besas perdidamente
hasta que la boca seca
está abierta como la noche,
llevada por su aliento.
Tú vives entonces, tú vives,
el sueño de que existes es cierto.
Desde que te busco.
Te estrecho para decirte que los sueños
son bellos como tu rostro,
lejanos como tus ojos.
Y el beso que busco es el alma "
Alfonso Gatto ( 1909-1976 ) ( Traducción de Vintila Horia )
_____________________________________________
En buenas bibliotecas, no hay infiernos.
" Lector de viejos libros, ¿ qué buscas
en los libros ? Tal vez una tropa
perdida hacia Morella, con banderas
de otro siglo. Una provincia oscura.
La niñez y sus sueños. Una señal
de que fue grande la patria. La ilusión
y el misterio. La penumbra naciendo
al término del día, cuando el ángelus
es la paz de la tarde. Tu voz
en otras voces, que han de morir contigo "
Juan Manuel Bonet.
" Lector de viejos libros, ¿ qué buscas
en los libros ? Tal vez una tropa
perdida hacia Morella, con banderas
de otro siglo. Una provincia oscura.
La niñez y sus sueños. Una señal
de que fue grande la patria. La ilusión
y el misterio. La penumbra naciendo
al término del día, cuando el ángelus
es la paz de la tarde. Tu voz
en otras voces, que han de morir contigo "
Juan Manuel Bonet.
_____________________________________
" Pero más me maravillo
por ser vos una donzella
de quien tengo gran querella
y vos mayor omezillo,
que fuestes la causa della;
esta brava disciplina,
con manos atán crudas
vos me dais, si non se fina,
me veredes muy aína
desesperar como a Judas "
Juan de Mena ( 1411-1456 )
por ser vos una donzella
de quien tengo gran querella
y vos mayor omezillo,
que fuestes la causa della;
esta brava disciplina,
con manos atán crudas
vos me dais, si non se fina,
me veredes muy aína
desesperar como a Judas "
Juan de Mena ( 1411-1456 )
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" Exactas palabras no se dicen
aunque al cuerpo se adhiera la sombra,
que nunca es la misma del cuerpo.
Tenaces se cierran los ojos,
no se da nombre a esa sombra.
Atacan criaturas de yerba,
succionan del otro sus vidas.
Coertemos la espesa enjambrada.
Derramen sus sangre las sombras.
Carmen Conde ( 1907-1996 )
aunque al cuerpo se adhiera la sombra,
que nunca es la misma del cuerpo.
Tenaces se cierran los ojos,
no se da nombre a esa sombra.
Atacan criaturas de yerba,
succionan del otro sus vidas.
Coertemos la espesa enjambrada.
Derramen sus sangre las sombras.
Carmen Conde ( 1907-1996 )
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" Siempre mirando hacia atrás
añorando al que fui
y cuando fui, no supe.
Debí ser muy feliz,
pues no me importaría
volver a aquel vivir
con la misma inconsciencia
de no saber de mí
sino, al pasar del tiempo,
que fui cuanto perdí "
Francisco Brines.
añorando al que fui
y cuando fui, no supe.
Debí ser muy feliz,
pues no me importaría
volver a aquel vivir
con la misma inconsciencia
de no saber de mí
sino, al pasar del tiempo,
que fui cuanto perdí "
Francisco Brines.
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" No se halla esperanza pura;
la que se funda en razón
sabe casi a posesión,
y la que en dicha, a locura.
Razón ni esperar no alcanza;
mi desdicha considero.
Como con locura espero,
espero sin esperanza "
Conde de Salinas ( 1565-1630 )
la que se funda en razón
sabe casi a posesión,
y la que en dicha, a locura.
Razón ni esperar no alcanza;
mi desdicha considero.
Como con locura espero,
espero sin esperanza "
Conde de Salinas ( 1565-1630 )
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" Desde el alba al ocaso
¡ Es tan breve el trayecto
para fijar un canon
que evite lastimar o lastimarse !
Antonio Martínez Sarrión.
¡ Es tan breve el trayecto
para fijar un canon
que evite lastimar o lastimarse !
Antonio Martínez Sarrión.
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" Debéis, pues, estar indignados con todos los que proponen leyes vergonzosas y malas, pero, sobre todo, con quienes desvirtúan las leyes de tal naturaleza que de ellos depende el que nuestra ciudad sea importante o insignificante. Y ésas ¿ cuáles son ? Las que castigan a los que comenten delitos, dando así satisfacción a los ofendidos y cuantas conceden determinados honores a los virtuosos. Pues si todos desearan ardientemente hacer bien a la comunidad, llenos de emulación por los honores y recompensas a causa de tales beneficios y todos se abstuvieran de obrar mal por miedo a los daños y castigos establecidos contra esos individuos, ¿ habría algo que impidiese a nuestra ciudad ser poderosísima ? "
Demóstenes ( 384 a.C-322 a.C )
Demóstenes ( 384 a.C-322 a.C )
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" La muerte nos esculpe
sólo con su sonrisa.
Un resurrecto sueño
es nuestra melancolía.
El tiempo va tallándonos
cada vez más deprisa
y somos como un lápiz
afilado sin mina.
Todo se va quedando
en su interior sin vida.
Todo, menos nosotros :
nuestro amor no termina "
Jaime Siles.
sólo con su sonrisa.
Un resurrecto sueño
es nuestra melancolía.
El tiempo va tallándonos
cada vez más deprisa
y somos como un lápiz
afilado sin mina.
Todo se va quedando
en su interior sin vida.
Todo, menos nosotros :
nuestro amor no termina "
Jaime Siles.
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" El cuerpo en lances de amor, es parte indispensable del alma "
Epicuro ( 341 a.C-270 a.C )
Epicuro ( 341 a.C-270 a.C )
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" Jamás descubriré el secreto
que guardo en mi corazón,
a pesar de sentir una gran inquietud.
¿ Será el destino o el deseo de ti ?
Mi sonrisa a menudo esconde una lágrima,
tal vez mi sinceridad sea fingida.
En vano intentas saber si te amo,
porque jamás te lo diré.
Así Tú me deseas "
Cesar Antonio Molina.
que guardo en mi corazón,
a pesar de sentir una gran inquietud.
¿ Será el destino o el deseo de ti ?
Mi sonrisa a menudo esconde una lágrima,
tal vez mi sinceridad sea fingida.
En vano intentas saber si te amo,
porque jamás te lo diré.
Así Tú me deseas "
Cesar Antonio Molina.
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