quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Onde pousar a cabeça - Manuel António Pina - RTP 2

Preciso muito de solidão. Se calhar toda a gente precisa, mesmo sem saber.

Aqui é o meu "lupus solus" . O meu lugar de solidão. E de silêncio, porque a solidão também é uma forma de silêncio. Silêncio e de intimidade.

O ruído de fundo dos automoveis a passar , para mim, faz parte do silêncio.

Há um espaço enorme, uma imensidão, entre nós e as palavras que é ocupado por coisa nenhuma. E quando nós tentamos ultrapassá-lo, só num acto de amor é que é possível ir ao encontro delas e deixar que elas venham ao nosso encontro.

Um poema feito à noite ou começado depois é completamente alterado porque à luz do dia ele já não funcionada mesma maneira. À noite todos os poemas são pardos, tudo parece mais forte e verdadeiro. Isto é um problema de verdade. À noite, a verdade é mais fácil de aparecer-nos porque é uma forma de aparição, à noite.

O Eliot diz algures que os poetas fracos copiam, os poetas fortes roubam. São as duas únicas alternativas a quem chega demasiadamente tarde, como todos nós chegamos que restam, ou copiar ou roubar. Ou calar-se, que às vezes é mais sensato.



A escrita para mim é mais do que respostas, é interrogações. Mais do que para afirmar a minha identidade, é para a procurar.

(...)

A minha poesia está atravessada não só por Pessoa mas por todos os poetas que li e como diria o Borges, por todas as pessoas que conheci e todos os lugares que amei.

----> ...a poesia de Pina como um Post Scriptum à poesia de F.P.

O funcionamento das "formas" fosse explicada, se fosse justificada em termos unicamente racionais, os diplomados da faculdade de letras eram todos grandes escritores. A coisa funciona de uma outra maneira. Há mais mundos do que o mundo da razão.

É sensato deixar as palavras seguir o seu próprio caminho embora não de tal maneira que nos arrastem pelo nariz. Mas deixá-las seguir o seu próprio caminho. Deixar que elas nos falem sózinhas.

" A dor dói. O boi muge."

Antes de ir para escola já sabia ler. O meu pai levava ao fim do dia o jornal para casa. Aprendi a ler nos titulos das noticias, nas letras grandes das manchetes.

Nas "Conversas vadias" A.P. entrevista o Prof Agostinho da Silva e pergunta-lhe o que é para ele um Poeta.

O professor responde que por causa do Porto, da Faculdade de Letras do Porto, onde ele estudou Filologia. "Eu tenho a mania de ir logo à origem da palavra. Como poeta vem dum verbo grago que significa criar. Eu digo que poeta é todo aquele que cria.

"Provavelmente, está tudo dito. Mesmo o sentimento da ociosidade e da inutilidade das palavras é uma sensação infinitamente cansada. E, no entanto, temos que dizer tudo de novo todos os dias, de juntar os pedaços dispersos do mundo e, com eles, descobrir para nós um lugar do nosso tamanho ou, ao menos, uma forma de sentido para aquilo a que chamamos a nossa vida. E, para isso, tudo o que temos são palavras. O que sabemos palavras; o que sonhamos: palavras; o que sentimos: palavras; e a nossa própria boca que fala é, também ela, só uma frágil e insegura palavra. O cronista é filho de Cronos, o tempo que passa, e a crónica vive o mesmo redundante destino do jornal que, como os velhos tipógrafos diziam, no dia seguinte serve apenas para embrulhar peixe (e que outro destino tem tudo senão o esquecimento?). Está então o cronista diante do mundo e de si próprio. E só pode repetir (na melhor das hipóteses por outras palavras, donde o título genérico destas crónicas) aquilo que cada homem imemorialmente repete: o amor e a morte, o medo e a esperança, a alegria e a decepção. Acontece assim nos sonhos. Temos medo e sonhamos com a esfinge. A verdade, porém, não é a esfinge, a verdade é o medo; a esfinge é só a imprecisa forma do nosso medo. Também a crónica aqui falará, a partir de hoje, de gente, de factos, de acontecimentos, mas o que dirá é outra coisa. E essa coisa é que é a verdadeira."

http://www.jn.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=510185

As crónicas são uma servidão diária.

Eduardo Lourenço: "é um poeta de uma quotidianidade simples e metafisica ao mesmo tempo."

...como é que te julgaria hoje a pessoa que tu foste quando tinhas vinte anos...



...deixem-me parafrasear Beethoven, a bondade é a única forma de superioridade, não gosto da palavra mas é a que usa Beethoven ...

...
...estás toda nua debaixo da roupa...
...
....como se faz teatro para crianças?
Como se faz teatro para adultos, mas melhor.
...
Se aqueles gajos que andam por aí a deitar para veia lessem um livro de astronomia ou de fisica das partículas apanhavam uma pedrada muito maior e muito mais duradoura,
...
houve uma altura em que quis mudar o mundo
mas agora o que eu quero é que o mundo não me mude a mim.
...
A poesia não serve para coisa nenhuma. Às vezes serve para alimentar egos, para fazer uns engates, mas a poesia é nutil. Pelo menos como eu a entendo. É gratuita, não se compra, não se vende, embora haja muita gente a vender-se através da poesia.

De qualquer mod, por algum motivo, os homens , desde sempre escreveram poesia. Apesar de tudo isto, apesar de a poesia ser uma igreja com muito poucos fieis.

www.terraliquidafilmes.com
(...)


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