segunda-feira, 30 de setembro de 2013

___________________________________________

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse...
Da praia onde foram felizes
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os Homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes
e calma.

Sophia de Mello Breyner Andresen



___________________________________________

___________________________________________



Sonharei, no teu seio calmo,
O sonho invisível do cego de nascença.
Dormirei, no teu cerrar de pálpebras,
Como um peixe desliza entre os ramos de árvore
Reflectidos na água.
Dormirei, nas tuas mãos pousadas no meu corpo,
O desejo de te acariciar sem perigo
- não vá tirar-te escamas, borboleta presa.
Dormirei, no teu sexo, a solidão do meu
Ao existir para que eu pense em ti.
Dormirei, na tua vida, a teimosia humana
De um sentido universal para as coisas connosco.
E se, depois, meu amor, formos estéreis,
Se a demora do tempo tiver tido um gesto abandonado,
E a morte, à nossa volta, um moleiro sem trigo,
O mundo que vier inveja-nos
E o nosso espírito há-de perdoar-nos.

Jorge de Sena


_________________________________________________

Why I fell in love with monsters prime numbers - Ted talks




Design for all 5 senses - Ted Talks - Jinsop Lee

"Why is sex so damn good?"






ESL Podcast 934 – Watching Special Effects

http://www.eslpod.com/website/show_podcast.php?issue_id=14168977

Audio Index:
Slow dialog: 1:12
Explanations: 3:17
Fast dialog: 16:36
Chrissy: Wow, that movie was amazing, but I can’t believe that they blew up the Eiffel Tower. I bet the French are really pissed.

Jack: You’re kidding, right? They didn’t really blow up the Eiffel Tower. They used special effects to make it look that way.

Chrissy: Are you sure? It really looked like the real thing.

Jack: They used a scale model or a computer-generated image of the Eiffel Tower and added some pyrotechnics or other visual effects to create what you saw on the screen. It’s like a big optical illusion. I can’t believe you really thought they blew up the Eiffel Tower.

Chrissy: Oh no, I didn’t. I was just kidding. But you have to admit that it was pretty cool that they got the real president of the United States to kill that monster, right?

Jack: You must be messing with my mind again. That wasn’t the president. That was an actor wearing prosthetics and makeup standing in front of a green screen. They added the monster later in post-production.

Chrissy: Oh, right, sure. But you have to hand it to them for moving a section of the Great Wall of China to New York City, right?

Jack: Oh, boy... 

505 lyrics - Arctic Monkeys

The Doors and John Lee Hooker - Roadhouse Blues (Complete)

* * * * * * *

The most wonderful opportunity which life offers is to be human.
Henry Miller


domingo, 29 de setembro de 2013

_________________________________________


Diz-me por favor onde não estás
em qual lugar posso não te ver,
onde posso dormir sem te lembrar
e onde relembrar sem que me doa.

Diz-me por favor onde posso caminhar
sem encontrar as tuas pegadas,
onde posso correr sem que te veja
e onde descansar com a minha tristeza.

Diz-me por favor qual é o céu
que não tem o calor do teu olhar
e qual é o sol que tem luz apenas
e não a sensação de que me chamas.

Diz-me por favor qual é o lugar
em que não deixaste a tua presença.
Diz-me por favor onde no meu travesseiro
não tem escondida uma lembrança tua.

Diz-me por favor qual é a noite
em que não virás velar meus sonhos.
Que não posso viver porque te espero
e não posso morrer porque te amo.

por: Jorge Luís Borges 


__________________________________________________

sábado, 28 de setembro de 2013

Madureira, Luisa - Problemas de equações diferenciais ordinárias - cap 01

OMC_2013-14_TP2



OMC_Folha0_RevisaoMatematica



vibrations and waves - anthony philip french - cap 02

Bach, Toccata and Fugue in D minor, organ

i levantado a i não é imaginário e é igual a um numero real (transcendente)




*

J.S. BACH: AIR Vienna Philharmonic Women´s Orchestra (+lista de reprodu...



Preferida de N.

vibrations and waves - anthony philip french - cap 01

Lec 1 | MIT 8.03 Vibrations and Waves, Fall 2004

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Guimarães (Comunidade Intermunicipal do Ave)

GREEN GOD - EUGENIO DE ANDRADE

________________________________________________


"O poema é solitário. É solitário e vai a caminho."

Paul Celan

__________________________________-

ABRIGO DOS CÉUS


Eu tenho desejado ir
Onde as primaveras não falham,
Aos campos onde moscas, atrevidas e astutas, não habitam,
E alguns lírios nascem.

E tenho pedido para estar
Onde nenhuma tempestade há-de chegar,
Onde a corrente verde está abrigada e muda,
E fora da oscilação do mar.


Gerard Manley Hopkins
in Piolho n.º11, trad. Ricardo Marques,
Edições Mortas / Black Sun Editores, Agosto 2013

___________________________

Eleni Karaindrou "By The Sea" Haim Shapira (piano)

Brian Crain - Silent Stare

___________________________________________________

Guitarra

Haverá um silêncio verde
todo feito de guitarras desatadas

A guitarra é um poço
com vento em vez de água


Gerardo Diego, in Imagen.

______________________________________

José Pacheco Pereira na Universidade de Verão 2013

________________________________________

Quando se apaga no punho
a vibração
- quando a mão suspende o gesto
e o silêncio não fala

todo o diálogo se perdeu

- ninguém viu a flor
ou ela está ausente


António Ramos Rosa, in Estou vivo e escrevo sol (pg. 21).

__________________________________________________

Christina Perri - A Thousand Years (Piano/Cello Cover) - ThePianoGuys


"Maus versos poderão ter uma voga transitória, enquanto o poeta reflectir uma atitude popular momentânea; mas a verdadeira (poesia) sobrevive, não só a uma mudança de opinião popular, mas ainda ao desaparecimento de todo e qualquer interesse à volta das questões que motivaram o arrebatamento do poeta."

T. S. Eliot (1888-1965), in A Função social da Poesia (trad. por J. Monteiro-Grillo).

Jacques Loussier Trio: Johann Sebastian Bach - Harpsichord Concerto in D...

Outono - pássaro de melancolia
num céu sem cor que não promete nada;
mar de insónia onde o teu corpo paira
como o perfume da terra molhada.


Eugénio de Andrade, in Os amantes sem dinheiro (1950).

Stacey Kent - The Trolley Song

_____________________________________________

Não tenho lágrimas
estou mais baixo
junto à cal

Vejo o solo extinto
Não oiço ninguém
e não regresso

Adormecer talvez
junto a uma estaca
com uma pequena pedra
sobre as pálpebras


Também de rasgões é feito o poema

Também de rasgões é feito o poema
entre uma possível estrela e a carne dolorosa
E nele se desenha a sombra de um crânio
ou as mãos vazias que perderam o rastro
de um segredo evidente submerso no opaco


Todo o tempo perdido

Todo o tempo perdido
para não me perder
para não sufocar

Poderei ainda
reconhecer
atrás das pálpebras
a intacta ferida?


Por vezes de um poema concluído

Por vezes de um poema concluído
subsiste um aroma frágil instantâneo
que acende sobre nós uma ingénua estrela
que ilumina os nossos gestos
e aligeira os passos sobre as pedras claras


in "A Intacta Ferida"
António Ramos Rosa (Faro, 17-10-1924 / Lisboa, 23-09-2013)

__________________________________________-


GirLs in Hawaii -*- “Misses”
FaLLs 2013 : From BeLgium .. A savourer .. L*
“There is aLways the sound, 
Are you hearing it too
How it’s weird Living inside the town.
Empty days without you.

There is aLways a faLL
But it happened too soon.
How can I see the Living aLL around,
When I struggLe with you

There is aLways a clock
Gods beyond, by the curve
What’s the point to give in
To desperation? to desperation…

Youth in the sun drowned in broken seas
Cruising the summer sands
Despite aLL the bruises coming from the side
You’LL aLways be young and amused .. and amused ..
I miss You ..”

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

____________________________________________-


" Jamás, señora, puedo mejorarme,
       y cuanto es bueno por sanar mis males
       revuelve el pensamiento y es matarme.
       ¡ Oh, mal que es bien ! De mal dais señales.
       No quiero el mal ni de él puedo apartarme,
       y huyo el bien que alcanzan desleales.
       Mirad, si no lo veis, qué desasosiego
       alcanza aquel que sigue amor tan ciego "

          Juan Boscán ( 1490-1542 )

_________________________________________________________

O impossível carinho

Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor -
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!

Manuel Bandeira
(1886-1968)

_______________________________________________

" Avanza desde el oscuro rincón.
       La trae aquella música de cuerpo de fantasma,
       aquella música que flota.
       Al llegar a la rueda del corazón
       se levanta en las puntas de los pies,
       que se clava como agujas, como agujas.
       Necesitaba aquellas alas de fuego en los pies,
       para poder seguir hasta la garganta
       a cosechar el aire y segar la voz,
       y volar hacia otro rincón oscuro,
       huyendo entre el sueño y la muerte.
       La nostalgia no tiene tiempo ni lugar "

         Álvaro Cunqueiro ( 1911-1981 )

__________________________________-



PUDESSE O QUE PENSO.



Pudesse o que penso exprimir e dizer
Cada pensamento oculto e silente,
Levar meu sentir moldado na mente
A ser natural perante o viver;

Pudesse a alma verter, confessar
Os segredos íntimos em meu ser;
Grande eu seria, mas não pude aprender
Uma língua bem, que expresse o pesar.

Assim, dia e noite novo sussurar

E noite e dia sussurros que vão...
Oh! A palavra ou frase em que atirar

O que penso e sinto, acordando então
O mundo; mas, mudo, não sei cantar,
Mudo como as nuvens antes do trovão.


Fernando Pessoa
(1888-1935) 

______________________________________-

Em um tornozelo

Tive uma revelação não do alto
Mas de baixo, quando a vossa saia por um momento levantou
Traíu tal promessa que não tenho
Palavras para bem descrever a vista.

E mesmo se o meu verso tal coisa pudesse tentar,
Difícil seria, se a minha tarefa fosse comtemplada,
Para encontrar uma palavra que não fosse mudada
Pela mão fria da Moralidade.

Olhar é o bastante: o mero olhar jamais destruíu qualquer mente,
Mas oh, doce senhora, além do que foi visto
Que coisas podem ser advinhadas ou sugerir desrespeito!

Sagrada não é a beleza de uma rainha.
Pelo vosso tornozelo isso cheguei a suspeitar
Do mesmo jeito que vós podeis suspeitar do que eu quis dizer.

Alexander Search, um dos heterônimos de

Fernando Pessoa
(1888-1935)

______________________________________________-

LÁGRIMA
 
 
Dos olhos me cais,
redonda formosura.
Quase fruto ou lua,
cais desamparada.
Regressas à água
mais pura do dia,
obscuro alimento
de altas açucenas.
Breve arquitectura
da melancolia.
Lágrima, apenas.

Eugénio de Andrade
(1923-2005)

___________________________________________-

O QUE HOJE APRENDI PARA DIZER-ME.

 

O que hoje aprendi para dizer-me
talvez não caiba no jeito do verso
não cabe, por minha falta
mas eu aprendi.

Desde hoje serei mais eu
estarei mais onde estiver

José de Almada Negreiros
(1893-1970)

________________________________________-

LAMENTO

Pátria sem rumo, minha voz parada
Diante do futuro!
Em que rosa-dos-ventos há um caminho
Português?
Um brumoso caminho
De inédita aventura,
Que o poeta, adivinho,
Veja com nitidez
Da gávea da loucura?


Ah, Camões, que não sou, afortunado!
Também desiludido,
Mas ainda lembrado da epopeia….
Ah, meu povo traído,
Mansa colmeia
A que ninguém colhe o mel!.....
Ah, meu pobre corcel
Impaciente,
Alado
E condenado
A choutar nesta praia do Ocidente…

Miguel Torga
(1907-1995)

__________________________________________________

EXORCISMO


Canto
O meu desencanto.
Este cansaço
Lasso
De tudo quanto,

Esta melancolia
Penitente
De quem sente
Que luta e que porfia
Inutilmente.

Esta baça impressão
De que nada vale.
Esta tristeza triste
Que resiste
Às razões da razão inconformada.

Miguel Torga
(1907-1995)


______________________________________________

FICAM AS SOMBRAS.


Não. Não podeis levar tudo.
Depois do corpo,
E da alma,
E do nome,
E da terra da própria sepultura,
Fica a memória de uma criatura
Que viveu,
E sofreu,
E cantou,
E nunca se dobrou
À dura tirania que o venceu.
Fica dentro de vós a consciência
De que ali onde o mundo é mais vazio
Havia um homem.
E sabeis que se comem
Os frutos acres da recordação…
Fantasmas invisíveis que atormentam
O sono leve dos que se alimentam
Da liberdade de qualquer irmão.


Miguel Torga
(1907-1995)

____________________________________-



PREVIAMENTE

Na primeira existência aprendes logo o formato,
célula após célula desenrola-se em meadas organizadas, planta membros,
és reduzido lentamente a um conceito de seis letras.

Esqueces-te de como era ser perfeito. Permaneces assim brevemente,
reconheces as oportunidades no decorrer do tempo, roças-te à
coincidência, armas-te com a razão e o tempo,
até demarcas uma vida anterior.

No momento em que te divides
desapareces simultaneamente
em dois amantes.

Muitas vezes é esse o fim, vêem-se demasiado tarde,
é como se houvesse um estranho obstáculo ou
as suas míseras vidas se desenrolassem em cidades incompatíveis.

Por vezes, revelas-te contumaz, encontras com exactidão
a fenda, deixas-te repentina e imprevisivelmente
voltar a fundir-te num só.


§


RISCOS


O nosso quarto habitual. As paredes erguem-se tal qual
como combinado. A janela desdobra-se, completa

com os cortinados fechados. Poderia ser ao princípio da noite ou
ao fim do dia. Penumbra inalterável.

algumas chalaças sobre a luz do dia que menos e menos suporta.
O odor a madeira e a tangerinas muito maduras.

Olha, ali surgem os armários, a cama de casal delineia-se
com os seus lençóis e os cobertores,

a colcha com a mancha exactamente no mesmo sítio. Lá
em baixo recompomos as nossas caras, sentamo-nos à mesa

e a vista enche as ombreiras: quintas, três árvores a abanar.
Sabemos de antemão o que iremos agora comer:

a entrada, que é sempre um desapontamento, o bife e a tarte de maçã.
Estamos mais velhos, entretanto podemos pagar

uma coisa melhor. Aqui chove a maior parte do ano.
O perigo maior envolve-nos com

o mesmo lugar, o mesmo quarto. Arriscamo-nos a ter hábitos,
amamo-nos. Repetimo-nos.


§


De Celinspecties (Inspecções às Celas)


BEM-VINDO DE VOLTA


Sei como eles passam o portão à noitinha.
As mãos ainda côncavas de acariciarem
as cabeças dos filhos, as costas dobradas.

Trazem na roupa o exterior e cheiros a comida,
pêlos de cão, cerveja, o cheiro a mulher quente e
últimos cigarros juntos, lençóis enxovalhados.

Olho para os homens a lavarem-se
deixando para trás sabão, pó e saudades.

Sei que as mulheres ficam junto aos portões.
Os casacos abotoados até ao pescoço,
As mãos nos bolsos, cabeças curvadas.

Como os homens avançam em silêncio.


§


DENTRO DOS LIMITES


Habituas-te à tua forma. Às paredes construídas de paciência, à altura do tecto cheio de manchas estranhas, ao chão pegajoso; imperturbável, a tua respiração sonda o espaço e retorna, as tuas mãos acham no escuro o interruptor, os cigarros, como te movimentares, habituas-te a fumar no escuro, quem vês mais nitidamente são os teus filhos, pedalam em bicicletas de pneus furados, pegam em ferramentas sem terem ninguém que lhes ensine, atiram aos pássaros errados, raspam as faces com a tua navalha embotada. Habituas-te. Debaixo dos cobertores a tua mulher revolve-se nua, sente-la próxima, estendida, em dimensão real, tentas tocar-lhe, habituas-te a um corpo que ninguém mais toca e tu mais e mais perdido à volta dela, difícil de consolar. Habituas-te à vista como a uma história, a quem ta leu naquela altura, quase adormecido, já naquela altura, muitos anos atrás, praticamente não compreendeste o significado, tal como te esqueceste de muitas coisas e habituas-te à imagem que fabricas depois: salteadores aparecem e cantam, há um homem com uma gadanha, uma mulher numa torre, de braços abertos como se estivesse à espera de cair, no entanto a espera dela é voluntária, ri-se. Habituas-te. A que em breve, corajosamente alguém virá socorrê-la, derrotar os ladrões e dar cabo do homem com a gadanha. Habituas-te ao impulso de a meter para dentro. A ficar hesitante ao princípio, em seguida, aos teus hábitos, a uma relação com a luz sobre os lençóis, à porta de ferro, à torneira que pinga, aos buracos dos cigarros nas cortinas, aos teus posters nus que se oferecem, ao rosto omnipresente que se debruça quando escurece, ao bafo da justiça, às conversas dos outros e à música ao longe, ao facto de tudo provocar estalidos, ao desaparecer vagaroso de um passo no corredor, a ter medo habituas-te, à tua nudez completa, sémen na mão, caracol que és. A matutar habituas-te, à inutilidade da respiração contínua habituas-te, ao constante cismar habituas-te.

ESTER NAOMI PERQUIN nasceu em Utrecht em 1980. Reside em Roterdão, cidade da qual é a poetisa oficial (nomeada em 2011 por um período de 2 anos). Em 2006 concluiu o curso de escritora na Amsterdamse Schrijversvakschool, na variante Poesia. A fim de pagar os estudos, Ester Naomi Perquin trabalhou como guarda prisional durante 4 anos. Essa experiência profissional reflecte-se na temática de grande parte dos seus poemas. No último livro que publicou, Celinspecties (Inspecções às Celas) todo o livro se centra à volta da prisão em geral, e dos seus habitantes em particular. Assinalados pelo nome próprio e a inicial do apelido, eles desfilam numa galeria de tipos, motivações, vivências, atitudes e crimes. Esse desfile faz-se sem juízos ou preconceitos. Ester Naomi Perquin estreou-se em 2007 com o livro de poesias Servetten halfstok (Guardanapos a meia-haste) que recebeu o prémio de estreia da revista Het Liegend Konijn. No ano seguinte, o mesmo livro arrecadou o prémio Eline van Haaren destinado a poetisas até aos 35 anos. Servetten halfstok foi ainda nomeado para dois prémios prestigiosos: o prémio C. Buddingh (2007) e o prémio Jo Peters (2008). Namens de ander (Em nome do outro) foi o seu segundo livro a ser publicado, em 2009. Ganhou o prémio de poesia Jo Peters (2010) e o prémio J.C Bloem (2011) seguidos de mais prémios. O terceiro e último livro chama-se Celinspecties. Publicado em 2012, já recebeu um prémio em 2013.


____________________________________________

ESTRADAS ERMAS JUNTO AO MAR.

Pouco a pouco eles partiram
sonhavam outros mundos dentro
deste mundo. Levaram suas palavras
carregadas de bandeiras a esvoaçar
ao vento. Levaram o próprio vento
que por vezes trazia
as guitarras secretas da líricas ilusões.
E as tardes de Verão e o cheiro do jasmim
e as raparigas debruçadas das janelas
e as estrelas ardentes que deixavam
pelas estradas ermas junto ao mar.
Levaram o próprio mar que estava dentro
dos íntimos caminhos nunca desbravados.
Levaram os livros que narravam
as cidades futuras. Levaram
as próprias cidades e a abstracção
de suas casas e suas ruas
onde se juntavam todos e ninguém.

Levaram as manhãs anunciadas
e o amor de uma noite de um só
Verão. Levaram o próprio amor
levaram a noite e o Verão
as teorias e os teoremas
as gramáticas viradas do avesso
as praças os poemas
e sobretudo aquele verso
onde os povos passavam a cantar.

Pouco a pouco partiram. E só deixaram
estradas ermas junto ao mar.

Manuel Alegre
In "Nada Está Escrito"

_________________________________________________

DILEMA

É uma voz que me chama e me defende:
- Vem...; mas não venhas...; cada sonho é
Tanto mais vivo quanto mais se estende
A dura rota que nos leva ao pé.

E eu ouço a voz que prega no deserto,
E não paro nem volto; apenas sinto
Que, se chego, desperto,
E, se não chego, minto.”

 

Miguel Torga
(1907-1995)
_____________________________________________

É ASSIM  A MÚSICA.


A música é assim: pergunta,
insiste na demorada interrogação
- sobre o amor?, o mundo?, a vida?
Não sabemos, e nunca
nunca o saberemos.
Como se nada dissesse vai
afinal dizendo tudo.
Assim: fluindo, ardendo até ser
fulguração – por fim
o branco silêncio do deserto.
Antes porém, como sílaba trémula,
volta a romper, ferir,
acariciar a mais longínqua das estrelas.


Eugénio de Andrade
(1923-2005)

__________________________________

CONTRATO.

Se estiveres contente, dou-te uma maçã;
se tiveres medo, torço a tua mão;
e se me deixares, quero apertar-te,
sem te fazer mal, contra o coração.

Se eu estiver contente, dás-me uma maçã?
Se eu estiver com medo, torce a minha mão.
E se tu quiseres, podes apertar-me,
sem me fazer mal, contra o coração.

Isto é um contrato, só com dois se faz:
venho oferecer-to com desesperada
calma, sendo incerto que estes nossos jogos
possam dos amantes expulsar demónios.
Gastão Cruz

______________________

QUANDO OS TEUS OLHOS ABSORVEM


Quando os teus olhos absorvem
todas as cores da minha
mais íntima tristeza,
e compreendes e calas e prometes
um lugar qualquer na tua alma,
e a tua voz demora a regressar
ao neutro compromisso das palavras,

sei que as tuas mãos ajudariam
a limpar estas lágrimas antigas
por dentro do meu rosto.

Vítor Matos e Sá
(1926-1975)

_______________________________________-

DO SENTIMENTO TRÁGICO DA VIDA.

Não há revolta no homem
que se revolta calçado.
O que nele se revolta
é apenas um bocado
que dentro fica agarrado
à tábua da teoria.

Aquilo que nele mente
e parte em filosofia
é porventura a semente
do fruto que nele nasce
e a sede não lhe alivia.

Revolta é ter-se nascido
sem descobrir o sentido
do que nos há-de matar.

Rebeldia é o que põe
na nossa mão um punhal
para vibrar naquela morte
que nos mata devagar.

E só depois de informado
só depois de esclarecido
rebelde nu e deitado
ironia de saber
o que só então se sabe
e não se pode contar.

Natália Correia
(1923 - 1993)

____________________________________-

É DIFÍCIL NA VIDA ACHAR ALGUÉM.

É difícil na vida achar alguém
Que seja na verdade um grande amigo,
E se assim penso – e com tristeza o digo,
É porque o sei, talvez, como ninguém.

Se a amizade é um bem – e se esse bem
Traz o conforto de um divino abrigo,
Por mim, direi, que nunca mais consigo
Iludir-me nas graças que ele tem.

Afectos, sacrifícios, lealdade!,
Tudo se apaga ou fica na memória
Se a ilusão dá lugar à realidade.

E ai daqueles que pensam na excepção:
Acabam por ficar dentro da história
De que a vida é um sonho e uma traição.

António Botto
(1897 - 1959)

_____________________________

" Si la mano en la mano y la mirada
        sumida en la mirada, no por eso
        deja de hacer a la mirada acceso
        la boca temblorosa y encarnada,

        color de corazón, donde encerrada
        está un ansia febril y el amor preso,
        hasta juntar las bocas en el beso,
        naciente sol de alba apasionada.

        El mundo por defuera se oscurece,
        al par que por adentro se ilumina;
        fúndese alma con alma en una esencia,

        que es el alma del mundo; y reaparece,
        ley infalible y claridad divina,
        cada vez que el amor hace presencia "

          Ramón Pérez de Ayala ( 1880-1962 )

_____________________________________

" Ay de mí y ay de ti, qué nos conmueve
        sino la fuerza del amor, responde
        tú, taciturna, desvaída venus,
        mujer serena que te restituyes
        a tu centro primero, en liviandad
        del minuto pasado, inútil prueba
        dudando, repensando lo que fuimos
        y balando en el alma como dos corderitos
        lo que no somos, lo que no seremos "

          Mariano Rodán. 

______________________________________

" Lo que estaba en el árbol, está;
       porque todo lo que ha sido, es.
       Él solo precisa la mano que descansa
       y que le dice : " ven ".
       Porque la mano es él : árbol y pensamiento
       y tiempo que te ama y busca
       para sobrevivir en ti
       porque si piensas el ser, eres;
       y, si piensas el vacío del ser, eres el vacío.
       Causalidad.
       Acerca la mano para darme certeza,
       casi como si ser y querer
       tuvieran que unirse en los labios
       donde somos, nosotros, árbol.
       Donde yo soy tu corteza
       y tú el vacío que me arde "

         Francesc Parcerisas. ( Traducción de Jordi Virallonga )
____________________

" Las grandes noches de estío
       que nada mueve sino el claro
       filtro de los besos; tu rostro,
       un sueño entre mis manos.

       Como tus ojos lejana,
       tú has venido desde el mar,
       desde el viento que parece alma.

       Y besas perdidamente
        hasta que la boca seca
        está abierta como la noche,
        llevada por su aliento.

        Tú vives entonces, tú vives,
        el sueño de que existes es cierto.
        Desde que te busco.

        Te estrecho para decirte que los sueños
        son bellos como tu rostro,
        lejanos como tus ojos.

        Y el beso que busco es el alma "

           Alfonso Gatto ( 1909-1976 ) ( Traducción de Vintila Horia )

_____________________________________________

  En buenas bibliotecas, no hay infiernos.

       " Lector de viejos libros, ¿ qué buscas
         en los libros ? Tal vez una tropa
         perdida hacia Morella, con banderas
         de otro siglo. Una provincia oscura.
         La niñez y sus sueños. Una señal
         de que fue grande la patria. La ilusión
         y el misterio. La penumbra naciendo
         al término del día, cuando el ángelus
         es la paz de la tarde. Tu voz
         en otras voces, que han de morir contigo "

           Juan Manuel Bonet.

_____________________________________

" Pero más me maravillo
       por ser vos una donzella
       de quien tengo gran querella
       y vos mayor omezillo,
       que fuestes la causa della;
       esta brava disciplina,
       con manos atán crudas
       vos me dais, si non se fina,
       me veredes muy aína
       desesperar como a Judas "

         Juan de Mena ( 1411-1456 )

_______________________________________

" Exactas palabras no se dicen
      aunque al cuerpo se adhiera la sombra,
      que nunca es la misma del cuerpo.
      Tenaces se cierran los ojos,
       no se da nombre a esa sombra.
       Atacan criaturas de yerba,
       succionan del otro sus vidas.
       Coertemos la espesa enjambrada.
       Derramen sus sangre las sombras.

          Carmen Conde ( 1907-1996 )

____________________________________

"  Siempre mirando hacia atrás
         añorando al que fui
         y cuando fui, no supe.
         Debí ser muy feliz,
         pues no me importaría
         volver a aquel vivir
         con la misma inconsciencia
         de no saber de mí
         sino, al pasar del tiempo,
         que fui cuanto perdí "

           Francisco Brines.

____________________________

" No se halla esperanza pura;
        la que se funda en razón
        sabe casi a posesión,
        y la que en dicha, a locura.
        Razón ni esperar no alcanza;
        mi desdicha considero.
        Como con locura espero,
        espero sin esperanza "

         Conde de Salinas ( 1565-1630 )

___________________________________

" Desde el alba al ocaso
              ¡ Es tan breve el trayecto
              para fijar un canon
              que evite lastimar o lastimarse !

               Antonio Martínez Sarrión.

________________________________

" Debéis, pues, estar indignados con todos los que proponen leyes vergonzosas y malas, pero, sobre todo, con quienes desvirtúan las leyes de tal naturaleza que de ellos depende el que nuestra ciudad sea importante o insignificante. Y ésas ¿ cuáles son ? Las que castigan a los que comenten delitos, dando así satisfacción a los ofendidos y cuantas conceden determinados honores a los virtuosos. Pues si todos desearan ardientemente hacer bien a la comunidad, llenos de emulación por los honores y recompensas a causa de tales beneficios y todos se abstuvieran de obrar mal por miedo a los daños y castigos establecidos contra esos individuos, ¿ habría algo que impidiese a nuestra ciudad ser poderosísima ? "

       Demóstenes ( 384 a.C-322 a.C )

_____________________________

 " La muerte nos esculpe
       sólo con su sonrisa.
       Un resurrecto sueño
       es nuestra melancolía.
       El tiempo va tallándonos
       cada vez más deprisa
       y somos como un lápiz
       afilado sin mina.
       Todo se va quedando
       en su interior sin vida.
       Todo, menos nosotros :
       nuestro amor no termina "

          Jaime Siles.

__________________________

" El cuerpo en lances de amor, es parte indispensable del alma "

            Epicuro ( 341 a.C-270 a.C )

________________________________________________

" Jamás descubriré el secreto
        que guardo en mi corazón,
        a pesar de sentir una gran inquietud.
        ¿ Será el destino o el deseo de ti ?
        Mi sonrisa a menudo esconde una lágrima,
        tal vez mi sinceridad sea fingida.
        En vano intentas saber si te amo,
        porque jamás te lo diré.
        Así Tú me deseas "

           Cesar Antonio Molina.

______________________________________

___________________________________

" Que te coja la muerte
        con todos tus sueños intactos.
        Al retorno de una furiosa adolescencia,
        al comienzo de las vacaciones que nunca te dieron,
        te distinguirá la muerte con su primer aviso.
        Te abrirá los ojos a sus grandes aguas,
        te iniciará en su constante brisa de otro mundo.
        La muerte se confundirá con tus sueños
        y en ellos reconocerá los siginos
       que antaño fuera dejando,
       como un cazador que a su regreso
       reconoce sus marcas en la brecha "

           Álvaro Mutis ( 1923-2013 )

_____________________________________________

___________________________________

Quem ama inventa

Quem ama inventa as coisas a que ama...
Talvez chegaste quando eu te sonhava.
Então de súbito acendeu-se a chama!
Era a brasa dormida que acordava...
E era um revôo sobre a ruinaria,
No ar atônito bimbalhavam sinos,
Tangidos por uns anjos peregrinos
Cujo dom é fazer ressurreições...
Um ritmo divino? Oh! Simplesmente
O palpitar de nossos corações
Batendo juntos e festivamente,
Ou sozinhos, num ritmo tristonho...
Ó! meu pobre, meu grande amor distante,
Nem sabes tu o bem que faz à gente
Haver sonhado... e ter vivido o sonho!

Mario Quintana
(1906-1994)


___________________________________