Perto de quatro décadas de democracia alteraram profundamente este panorama. É certo que muito se perdeu por culpa própria ou de alheios, que hesitações e descaminhos nos trocaram tantas vezes as voltas, que o terceiro D de Abril – o de Desenvolvimento, depois dos de Democracia e de Descolonização – fora achado mas não cumprido, que outros d (o de desgoverno, o de desperdício, talvez o de destino) muito deitaram a perder. Mas fomos capazes de sair da cova funda e negra, e do isolamento, proporcionando a pelo menos três gerações o vislumbre da prosperidade e uma vida razoavelmente digna. Na certeza de que quase todos poderiam ter os mínimos para, como proclamava a canção de Sérgio Godinho, conseguir «a paz, o pão, saúde, educação». O que nos permitiu chegar perto do pódio em muitos e novos campeonatos.
Estamos agora a regressar em passo acelerado ao ponto de partida. Em pouco menos de três anos a regressão foi brutal. Não apenas na perda de direitos, ou no recuo de todos os índices de desenvolvimento, mas sobretudo no que respeita ao desaparecimento da esperança de um futuro tranquilo. Atolados no pântano, não entrevemos saída ou salvação. E já nem em campeonato algum podemos jogar com convicção. Talvez apenas o triste, tristíssimo, da bajulação perante os mandantes da austeridade e da pobreza. Talvez o da falta de coragem política para defender a nossa independência. Ou então, dependerá de nós, o do terramoto cívico que nos traga o quarto D, sem o qual naufragaremos: o da Dignidade.
Publicado originalmente no Diário As Beiras.
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