Dormes, e eu não. O que tem sido
uma constante, inversamente recíproca,
dos dias e das noites que aceitámos partilhar.
Lá em baixo, a desoras, o rebanho
passa, faz-me ouvir os breves
badalos, entre folhagem seca.
De Lisboa só nos chegam notícias
fúnebres, dispensáveis. Caim deu boleia
a Abel, num automóvel de luxo.
E arrasta-se, entre putas e ladrões,
um tango triste que já não queremos dançar.
É apenas isso. Dorme. Talvez amanhã,
subitamente, o mundo nos pareça perdoável.
Manuel de Freitas, Cólofon,
Lisboa: Fahrenheit 451, 2012
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