Não te importes amor
se tivermos a alma em desalinho.
Amanhã cortaremos as sombras do quintal
sem acreditar que as sombras devam ser
sombrias. Mas é reconfortante acreditar na língua
e na sabedoria popular
e em tudo o que nos torna cúmplices.
se tivermos a alma em desalinho.
Amanhã cortaremos as sombras do quintal
sem acreditar que as sombras devam ser
sombrias. Mas é reconfortante acreditar na língua
e na sabedoria popular
e em tudo o que nos torna cúmplices.
Não te importes se for outono. Nunca pensaremos
que as coisas declinam porque nos amamos,
conjugaremos todas as estações com este amor,
pagaremos os impostos – agora é mais fácil
com o multibanco -, escreverás cartas
e algumas deixarás de escrever
porque as penas do edredão são leves
e não é saudável resistir ao amor.
que as coisas declinam porque nos amamos,
conjugaremos todas as estações com este amor,
pagaremos os impostos – agora é mais fácil
com o multibanco -, escreverás cartas
e algumas deixarás de escrever
porque as penas do edredão são leves
e não é saudável resistir ao amor.
Não te importes se estivermos ocupados
com pequenas coisas. És tão belo
a limpar a louça como a dizer um poema,
a arrumar os papeis ou a desabotoar-me o vestido.
Pão nosso nos dai hoje e a torradeira amanhã bem cedo,
o forno quente, a manteiga a escorrer, a tua mão a segurar
a chávena e todas as coisas que nos fazem sorrir
só porque nos amamos e o sabemos
por hoje e pelo tempo que virá,
porque resistimos à burocracia e ao cansaço,
porque aprendemos a olhar o rio
a ver como é diferente quando o dia nasce, quando
a noite cai, quando uma chuva miúda torna a terra fértil
e cheira a estrume, a merda de alcatrão lavado.
com pequenas coisas. És tão belo
a limpar a louça como a dizer um poema,
a arrumar os papeis ou a desabotoar-me o vestido.
Pão nosso nos dai hoje e a torradeira amanhã bem cedo,
o forno quente, a manteiga a escorrer, a tua mão a segurar
a chávena e todas as coisas que nos fazem sorrir
só porque nos amamos e o sabemos
por hoje e pelo tempo que virá,
porque resistimos à burocracia e ao cansaço,
porque aprendemos a olhar o rio
a ver como é diferente quando o dia nasce, quando
a noite cai, quando uma chuva miúda torna a terra fértil
e cheira a estrume, a merda de alcatrão lavado.
Não te importes amor se hoje te amo tanto.
Amanhã tem mais uma sílaba
e é com ela que te conjugo entre os lençóis.
Amanhã tem mais uma sílaba
e é com ela que te conjugo entre os lençóis.
In Da Alma e dos Espíritos Animais (2001)
Rosa Alice Branco
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