domingo, 5 de janeiro de 2014

Como voltar feliz ao meu trabalho 
se a noite não me deu nenhum sossego? 
A noite, o dia, cartas dum baralho 
sempre trocadas neste jogo cego. 
Eles dois, inimigos de mãos dadas, 
me torturam, envolvem no seu cerco 
de fadiga, de dúbias madrugadas: 
e tu, quanto mais sofro mais te perco. 
Digo ao dia que brilhas para ele, 
que desfazes as nuvens do seu rosto; 
digo à noite sem estrelas que és o mel 
na sua pele escura: o oiro, o gosto. 
    Mas dia a dia alonga-se a jornada 
    e cada noite a noite é mais fechada. 

William Shakespeare, in "Sonetos" 
Tradução de Carlos de Oliveira

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