domingo, 27 de abril de 2014

A gente já não sabe, até esquece o que bem dizer
Quando as palavras por demais redundam, quando
Quase todos acabamos algures, muito por dentro
Entre “Para quê dizer o que for se já ninguém ouve?"
E um lugar mal comum: “Será isto a Cidade, sede onde
Nem há dois séculos era suposto a Liberdade ocorrer
Ou mais uma filial da Solidão, mais um sítio banal
Sem nenhum além, sem nada para dar?" É só o que
A todos os cativos da atenção em monitores pergunto
"Que raio neste fátuo caminho nos espera?", creiam
Vendo nos vamos, mas indo nos fomos, bem mal fodidos 
Num enorme estupor, tantos num cubo, perto da cova  
Ou em 3D, todos ou quase, bom, incertos demasiados
Numa verdade comum a tantos outros, a sério, ninguém
Precisa realmente de mim, de ti, de nós ou de alguém
Além de uma espécie de fingimento, uma incerta precisão
De que o Outro é possível. Sabem que mais? Já não é!
Cristo morreu, Marx também, nem eu nem quase ninguém
Sabe bem de si, enfim, redenção cada vez mais impossível
Quase todos reclusos da nossa primeva natureza réptil
À toa entre piranhas e tubarões, esquecemos o ser gentil
A mal dizer, quase todos desistindo vamos de ser gente

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