quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
Calai os versos abstractos
E a mansidão dos olhos que têm os bois pacatos.
Calai tanto, tanto espírito na terra,
E a cristianíssima paz que nos faz guerra.
Calai, promessas de anjo, o céu sublime,
Quando as mãos, cheias de oiro, trazem máscaras de crime.
Calai loas de amor às crianças maltrapilhas
Que esses farrapos de alma não lhes cobrem as virilhas.
Calai as lágrimas à beira dos enfermos:
Prefiro a solidão que é soluço nos ermos.
Calai, palhinhas de Jesus, que sois o ai de quem ama:
Paz na terra e no céu: ao cristão, ao judeu, e à gentílica moirama.
Calai-vos, bêbados aos bordos nas estradas:
Para matar tristezas, Nossa Senhora das Dores com suas sete espadas.
Afonso Duarte (1884-1958)
Ossadas
In Obra poética
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