quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

 " Déjame ser el huésped de tu boca,
       la lentitud con que el calor recorre tu desnudo.
       Soy como el frío de una noche desierta,
       pronto a buscar cobijo en los derrumbaderos
       donde hace nido la melancolía.
       Hay tanto resplandor, la luna es tanta
       que me deslumbras con la calidez
       de tu silencio, y me sumerjo en ti.
       Nunca pensé una eternidad tan cerca "

           Jenaro Talens.

Deixa-me ser o habitante de tua boca
a lentidão com que o calor percorre a tua nudez.
Sou como o frio de uma noite deserta
pronto a buscar abrigo nos despenhadeiros
aonde faz ninho a melancolia.
Há tanto brilho, a lua é tanta
que me deslumbras com o carinho
do teu silêncio, e me submerjo em ti.
Nunca pensei uma eternidade tão perto.

Trad: aj c.


"  Quédate fuera. Todo es pérdida.
        Es un deshojamiento el devenir
        En el que estás, de seres y de cosas.
        Prepara en el telar de la renuncia
        La urdimbre de los días que te quedan.
        Retírate, no acudas
        Al reparto que era violencia y odio.
        Preparate, sereno,
        A saber prescindir
        De lo que un día estuvo
        Tocado por la luz de lo sagrado
        Pero que hoy es objeto de codicia.
        Tantos días de gozo
        Y de dolor te esperan
        Que la muerte no puede
        Ser sino plenitud.
        Retírate. Quédate fuera.
        Construye en la renuncia
                                                el sentido del tiempo "

           José Luis Puerto.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Não acredito no génio, acredito, sim, na necessidade, na urgência, na ânsia de me manter por um fio entre a queda final e o precário equilíbrio das palavras. O trajecto escrito de um escritor nada tem a ver com a publicação de livros. Pode-se ser escritor, e nunca ter publicado um livro. Parece-me claro tudo isto. Os mecanismos da escrita são, de certo, mais profundos e misteriosos, para que estejam condicionados à simples publicação dum livro.

em 24.1.84, excerto de Diários, Al Berto, 2012  
Perdi a caneta
de tinta eterna
no teu cabelo.

O Adamastor lá estava, no relvado,
onde mais duma vez nós conversámos
a contemplar o rio com desencanto.

A caneta perdida impedia-me de escrever
quanto te amo e odeio
como se ardesse a frio num incêndio.

A côr da friagem na minha barba hirsuta
toldada de brancura e nevoeiro:
é a velhice magra que me espreita, atenta
à caneta perdida em teu cabelo.


António Barahona, Pátria Minha,
Lisboa: Averno, 2014

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

David Byrne - Houses in Motion



I'm walking a line
I'm thinking about empty motion
I'm walking a line
Just barely enough to be living
Get outta the way
No time to begin
This isn't the time
So nothing was done
Not talking about
Not many at all
I'm turning around
No trouble at all
You notice there's nothing around you, around you
I'm walking a line
Divide and dissolve.



Forever Young by JOAN BAEZ

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

We shall not cease from exploration, and the end of all our exploring will be to arrive where we started and know the place for the first time.
Read more at http://www.brainyquote.com/quotes/quotes/t/tseliot109032.html#Rszs6i4pbghUspFo.99

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Nadia Kaabi - Preso por Fios from CAM Gulbenkian on Vimeo.

Nick Drake "Road" 1972





You can say the sun is shinning if you really want to
I can see the moon and it seems so clear
You can take the road that takes you to the stars now
I can take the road that will see me through

Road, Nick Drake, 1972


.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

LET'S STAY TOGETHER - Tina Turner (Celebrate!)

Podias obedecer a um registo de perder
o respeito, levantar a saia se a tivesses,
alçar a perna se cão fosses, mandar à merda
quem vem socorrer-te da vida e te decepa os dedos.

Com um rigor de artilharia que amortece o cansaço,
o combate quase sereno. De vez em quando,
fazes a conta de cor e dizes apesar de tudo, inspiras-me,
e não queres saber muito mais do que isto.

Estás na vida com na montra alguns relógios,
parado, e pensas numa sepultura no mar, tudo
menos esta terra, tudo menos uma corda, tudo menos
viver a pulso e ter de sacudir a chuva contra o casaco.

Os dias sem prognóstico, vivendo apenas para
esperar a madrugada, e que ela venha como cortejo
e aprendas a ficar.


Marta Chaves, Pedra de Lume,
Lisboa: Paralelo W, 2013

LUXÚRIA


Caí no hábito 
de ir às matinas. Hoje
descobri que estão a reparar
a igreja. As janelas laterais
foram retiradas. Fiquei chocado
com o som das andorinhas. Com o sol
e o cheiro da manhã.
Percebi que tem havido um engano. 


JACK GILBERT
[Trad. - Inês Dias]


NADA MAIS - RIEN NE VA PLUS


Na alienação que é o pensamento
as coisas escorrem pelos dedos abaixo
a matéria, a «phisis»
tudo nos escorre pelos dedos abaixo
na alienação que é o pensamento
Dominam-se as coisas até onde o céu
pode ser aberto
e a geometria uma realidade nossa
para limitar o espaço
A cabeça em limites
onde um limite um ser
uma coisa
e tudo cá dentro cá dentro cá dentro
até onde um limite
ainda torna possível a existência
dum outro por abrir
Hoje o céu é novo é diferente
é dormir e acordar de novo para as coisas
o céu os pássaros
a fantasia dos pássaros
Hoje é o céu novo o céu novo
hoje é a Grécia de ontem
foi ontem a Grécia
mas a Grécia ainda é hoje
é hoje porque é dormir e acordar de novo para as coisas
achá-las vê-las
cumprimentar as coisas com bons dias ao Sol
bom dia meu irmão
ressuscitar um morto
dizer aqui S. Francisco de Assis
aqui a cabeça cheia de vento
a graça as flores
o vento na cabeça
a cabeça a janela
aberta aberta
de S. Francisco de Assis
Hoje é dizer fui ontem mas ainda sou amanhã
amanhã amanhã
amanhã até onde o céu for aberto
e até onde a Estrela Polar distante distante
Hoje é dormir cantar
dormir com uma canção na cabeça
dizer boa noite meu amor meus astros minha esfera
amanhã outra vez amanhã de novo te conheço
ressuscito para as coisas
e assim o sono a existência o momento que passa
e nada mais
porque nada mais meu bom Sartre na verdade
nada mais que o momento
conta senão para nós.


António Gancho, O ar da manhã
Lisboa: Assírio & Alvim, 1995

João Afonso - Cheiro a Café