terça-feira, 23 de abril de 2013
As palavras interditas
Os navios existem, e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.
Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.
Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E entram pela janela
as primeiras luzes das colinas.
As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.
Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.
E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.
Eugénio de Andrade
(1923-2005)
quarta-feira, 17 de abril de 2013
!
Discípulo: A vida faz algum sentido?
Mestre: As nuvens tingem-se de verde e os rios são de leite, a chuva cai para cima, os olhos falam, os lábios olham, o sal é doce e a rosa cheira a bosta de boi.
Discípulo: Tudo o que dizes é um sem-sentido!
Mestre: Enquanto não perceberes os sem- sentidos não compreenderás NADA!
*
Mestre: As nuvens tingem-se de verde e os rios são de leite, a chuva cai para cima, os olhos falam, os lábios olham, o sal é doce e a rosa cheira a bosta de boi.
Discípulo: Tudo o que dizes é um sem-sentido!
Mestre: Enquanto não perceberes os sem- sentidos não compreenderás NADA!
*
#
fecho os olhos
sobre a distância
o tempo esvai-se
ao calor do rosto
desfiado pela espera.
a alma eleva-se
da respiração animal
enquanto iludo a morte
na esperança da viagem
aos teus lábios alvorada
para olhar o céu de frente
(...aj c.)
foto by Kan
sobre a distância
o tempo esvai-se
ao calor do rosto
desfiado pela espera.
a alma eleva-se
da respiração animal
enquanto iludo a morte
na esperança da viagem
aos teus lábios alvorada
para olhar o céu de frente
(...aj c.)
foto by Kan
quinta-feira, 11 de abril de 2013
. . .
Porque guardamos o coração no peito?
Por que esperamos?
O poder divino nos impele, a cada instante,
Partamos.
Contemplemos o universo sem limites
Encontremos o que é nosso,
Nada está mais longe
do que aquilo que não sonhamos.
aj c.
Por que esperamos?
O poder divino nos impele, a cada instante,
Partamos.
Contemplemos o universo sem limites
Encontremos o que é nosso,
Nada está mais longe
do que aquilo que não sonhamos.
aj c.
. . .
Certo é que os deuses vivem,
lá no mundo deles,
sem nós.
É melhor poetar
subir o os rios
ou atravessar os campos
sem esperança no divino
parar de vez em quando
onde os pássaros chilreiam
deixar brotar do mistério
a vida livre
o estranho sonho
a celeste sorte
o renovado ser
até ao amor de harmonia clara.
aj c.
lá no mundo deles,
sem nós.
É melhor poetar
subir o os rios
ou atravessar os campos
sem esperança no divino
parar de vez em quando
onde os pássaros chilreiam
deixar brotar do mistério
a vida livre
o estranho sonho
a celeste sorte
o renovado ser
até ao amor de harmonia clara.
aj c.
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